Perto do centro de Helsinque, na Finlândia, no bairro de Töölö, encontra-se a Igreja Temppeliaukio, um templo luterano de aparência incomum, aninhado entre rochas de granito. Aproximando-se da praça pela rua Fredrikinkatu, a igreja surge sutilmente: uma cúpula plana que se eleva pouco acima da paisagem circundante. Uma entrada despretensiosa, flanqueada por paredes de concreto, conduz os visitantes por um corredor escuro até o santuário iluminado esculpido na rocha. As paredes de pedra exposta renderam-lhe o nome alternativo de “A Igreja da Rocha”. Para contrastar com o peso dos materiais, claraboias ao redor da cúpula criam um jogo de luz e sombras e uma sensação de leveza.
A igreja é resultado de um concurso de arquitetura vencido pelos irmãos arquitetos Timo e Tuomo Suomalainen em 1961. Foram reconhecidos não apenas pela criatividade, mas também pelo respeito que demonstraram ao objetivo do concurso: “incluir o plano de organização para toda a Praça Temppeliaukio, tendo em mente que a maior parte possível do afloramento rochoso da praça deve ser preservada.” A proposta vencedora consegue isso incorporando a igreja dentro da rocha e colocando as instalações paroquiais nas bordas da colina. Este artigo explora a história por trás da Igreja Temppeliaukio, narrativamente e visualmente, através das lentes de Aleksandra Kostadinovska, uma fotógrafa profissional de Skopje.
Desde a construção do bairro de Töölö na década de 1920, a Praça Temppeliaukio foi designada para se tornar o cenário da igreja paroquial, como sugere seu nome, traduzido para Praça do Templo. O primeiro concurso de arquitetura para o projeto da igreja foi organizado em 1933. Decepcionada com os resultados, a comissão organizadora abriu um segundo concurso em 1936. A maioria dos projetos recebidos empregava uma torre no eixo dominante da rua, em direção à rua Fredrikinkatu. Por fim, o projeto escolhido foi o do professor J. S. Sirén, vice-campeão do concurso. A construção começou, mas logo é interrompida pelo início da Segunda Guerra Mundial.
Um terceiro concurso foi organizado em 1961, levando à seleção do design de Timo e Tuomo Suomalainen. A construção começou em fevereiro de 1968 e um ano e meio depois, em setembro de 1969, a igreja foi inaugurada. Devido a restrições econômicas durante o período pós-guerra, o plano sugerido foi reduzido, bem como o espaço interior da igreja, que perdeu cerca de um quarto de sua área original. Mesmo assim, a opinião pública inicialmente criticou o projeto, com alguns temendo que se parecesse com um bunker. Outros consideraram que o dinheiro poderia ser melhor empregado em outros fins, como apoio às vítimas da fome em Biafra. Em 1969, estudantes cristãos até picharam a palavra “Biafra” no canteiro de obras em um dos primeiros registros de graffiti na Finlândia.
Apesar da controvérsia, a igreja é hoje tida como um dos marcos mais queridos de Helsinque. Ela serve a um duplo propósito: um local de culto para os moradores de Töölö e um excelente local para concertos devido às suas impressionantes qualidades acústicas. O recurso é obtido devido às paredes de rocha expostas e ásperas. No projeto original, os irmãos Suomalainen propuseram um acabamento de concreto liso sobre a pedra, temendo que a rocha exposta fosse radical demais para o júri. No entanto, o maestro Paavo Berglund e o engenheiro acústico Mauri Parjo garantiram aos projetistas as qualidades acústicas de uma superfície mais irregular, levando à decisão de deixar as paredes de pedra intocadas. Marcas de perfuração da pedreira ainda são visíveis nas paredes.
Uma outra característica principal do edifício é sua cobertura, uma cúpula plana de 24m de diâmetro apoiada em vigas de concreto. Por dentro, a cúpula é revestida em fio de cobre, medindo 22 quilômetros de comprimento. Ao redor da cúpula, 180 chapas de vidro formam uma grande claraboia que traz luz natural para o espaço principal da igreja. A forma das vidraças varia para criar a transição da estrita forma geométrica da cúpula para a forma livre das paredes rochosas de alturas flutuantes. Acima do altar, a claraboia aumenta de tamanho, trazendo mais luz a este espaço que é dedicado aos rituais sagrados.
Grandes rochas de granito extraídas do mesmo local são empilhadas no topo das paredes de pedra natural para criar o espaço de 13 metros de altura. O edifício enfatiza seus elementos naturais e sua conexão com a terra. Durante a primavera, quando a neve derrete, a água vaza das rachaduras no leito rochoso e é coletada em pequenos canais no chão. O desenho do espaço interior nasce do tema da convivência com a natureza. Os materiais utilizados, como cobre e concreto aparente, foram escolhidos para complementar as tonalidades cor-de-rosa do pegmatito.
O piso do santuário é projetado para estar no mesmo nível da rua mais alta que adentra a praça, permitindo que a entrada conduza os visitantes diretamente ao interior sem a necessidade de escadas, tornando o espaço principal acessível a todos os usuários. Uma galeria pública conecta o espaço principal às instalações paroquiais adicionais localizadas na borda da colina. Uma característica incomum da igreja é a ausência de uma torre com sino. Para compensar, uma gravação de sinos do compositor finlandês Taneli Kuusisto é tocada em alto-falantes nas paredes externas.
As decisões de projeto podem parecer incomuns, mas estão bem alinhadas com as características geológicas únicas de Helsinque. A capital finlandesa é uma das poucas cidades do mundo com um plano diretor subterrâneo. Quase 10 milhões de metros quadrados de espaços subterrâneos sob a cidade formam uma extensa rede que esconde piscinas, igrejas, lojas e até uma pista de kart que funciona como abrigo da defesa civil. Durante o final dos anos 1950, a Europa assistiu a uma proliferação de estruturas parcialmente ocultas, motivadas pelo desejo de evitar a destruição. Outro exemplo desse tipo de arquitetura em Helsinque é o Museu de Arte Amos Rex.
Esse artigo é parte de uma série do ArchDaily intitulada AD narratives, onde compartilhamos a história por trás de um projeto selecionado, mergulhando em suas particularidades. A cada mês, exploramos novas construções de todo o mundo, destacando suas histórias e como elas aconteceram. Nós também conversamos com arquitetos, construtores e com a comunidade que busca ressaltar sua experiência pessoal. Como sempre, no ArchDaily, nós apreciamos muito as sugestões de nossos leitores. Se você acha que deveríamos apresentar algum projeto, por favor, mande sua sugestão.